29.1.10

O SILÊNCIO ETERNO DE J.D.SALINGER OU O SILÊNCIO ELOQUENTE




"Hay una paz maravillosa en no publicar. Es pacífico. Tranquilo. Publicar es una terrible invasión de mi vida privada. Me gusta escribir. Amo escribrir. Pero escribo sólo para mí mismo y para mi propio placer."

15.8.09


EU TAMBÉM TENHO OS LIVROS


Não escolho os livros. Os livros me escolhem. Apesar de ser tão recente, não sei mais explicar como me apaixonei por Toni Morrison, a Nobel de Literatura de 1993. Desde aquele ano sei dela, mas nunca lera. Apaixono-me por seus cabelos afros grisalhos, sua boca, suas mãos, suas duas garrafas de água mineral na entrevista e depois pelas suas palavras, pelas suas histórias.
Sabendo dela daqui e dali, recolhi os livros que existiam nas livrarias e encomendei os outros. Tive sorte: havia mais de um da escritora norte-americana. O mais freqüente é não encontrar nenhum que se procura, forçando a encomendas demoradas.
No mesmo dia, sem aliviar as roupas de inverno, saí na tarde quente, voltei e já li um capítulo, logo lerei outro e depois todos. Não quero, no entanto, ler mais tão rápido. Quero o maior tempo possível dentro das páginas, exercitando todos os sentidos, apesar de ter tantos livros por ler.
Quero vadiar, flanar na leitura, sem perder uma vírgula, uma entrelinha. Voltar à página anterior quantas vezes desejar. Reler mais de uma vez cada brochura, mesmo sabendo que para isso precisaria parar de comprar livros e viver 300 anos.
Li o primeiro capítulo de “Compaixão”, iniciando a obra de Morrison pelo fim, olhando pelo canto do olho o exemplar de bolso de “Jazz”, pensando no “Amada” que me espera na livraria fechada aos sábados de tarde, no “Olho Mais Claro” e nos outros que estão na pendência da encomenda.
De lambuja, na sacola, trouxe dois Fiódor , o Dostoiévski. Observo e os acho tão pequenos, tão fácil de ler um ainda durante a tarde e outro antes da madrugada. Quero, repito a mim mesmo, ler cada vez mais devagar, prender cada história, como cada livro me prende. Jogar de igual para igual.
Na mesa de cabeceira há uma pilha, na mesa de centro várias pilhas, na escada de serviço mais outras, na poltrona e no sofá tantas outras. Poderia lê-los todos em um mês, dois, um ano, mas quero lê-los para sempre e lembro de Marguerite Duras que escreveu “Caminhais em direção da solidão. Eu, não, eu tenho os livros”.
Entre eles, guardo a senhora de buço mal feito e ar de poucos amigos e da moça de olhar triste, que me atenderam. A primeira parece expondo todo seu desinteresse, a segunda entreabrindo os lábios para dizer que anoiteceria procurando outros Dostoiévski, Faulkner, Morrison, desde que eu lhe fizesse companhia. Ambas estranhas no ninho?

19.7.09


UMA LIVRARIA SÓ NO VITRAL


Nem bem o corrupião da meia noite no meu relógio de parede canta, lembro-me de uma livraria-café aberta no domingo à tarde. Com sol entrando pela janela. A livraria, no entanto, nunca existiu.

Minhas lembranças dela devem brotar da livraria que ficava aberta e sem café até às 24 horas, numa cidade longe e grande, no fim dos anos 80. Ou, então, da especulação que fazia com um amigo, quando na Astrogildo de Azevedo existiam duas livrarias: a da Cesma no início (ou ali é o fim?) da rua e a filial da Sulina, bem na subida em direção à Acampamento. Ingenuamente apostávamos que ali se transformaria em uma rua das livrarias, com uma loja aqui e outras logo ali e acolá, sendo abertas em breves espaços de tempo.
Não lembro se eu ou ele disse: a Astrogildo será como a Riachuelo, em Porto Alegre. Nós queríamos que assim fosse. Agora nem sei mais se há livrarias na Riachuelo. Ainda devem estar lá o Martins Livreiro, a Vozes e até a Sulina.

A Sulina não durou muito, em Santa Maria. A livraria da Cesma mudou-se para outra rua.

Mesmo assim, sempre lembro (para não dizer sinto saudades) de uma livraria aos domingos à tarde, com café e livro aberto numa mesa à janela. O sol entrando companheiro pelas vidraças. Essa livraria é a pintura que faz das vidraças um vitral.

4.7.09




CHATICE




Chico Buarque, entre palmas, gritinhos, chorinhos da platéia na Festa Internacional de Literatura de Paraty, ontem à noite, declarou que é uma chatice escrever e que consultou o google para saber alguma coisa da obra do seu colega de painel: Milton Hatoum.




Para a crítica literária argentina Beatriz Sarlo, "Budapeste" é a publicação mais importante dos últimos anos na literatura latino-americana. Penso que é um bom livro, apenas.




Se para um escritor é uma chatice escrever, deve ser uma chatice lê-lo. Aliás, ainda não li "Leite Derramado" e já achei uma chatice. Aproveitei para aproximar "Orfãos do Eldorado", de Hatoum, na pilha de espera dos livros da mesa de cabeceira.

2.7.09

LIBERDADE

Podem me prender no quarto

Eu saio pela janela

Podem trancar a janela

Eu fujo pelo telefone

Podem cortar o telefone

Eu pulo dentro de um livro (Leo Cunha)

PARA CELEBRAR UM CENTENÁRIO


Para celebrar o centenário de nascimento do escritor uruguaio Juan Carlos Onetti, ontem adiei quase todos compromissos, tomei banho mais cedo, coloquei o perfume de inverno, chamei um táxi e solene fui ao centro. Antes de sair de casa, ouvi do próprio Onetti a leitura do conto “Bem-vindo, Bob”, pelo El País online, de Madri.

Passei por uma livraria para comprar “O Estaleiro”, romance que ainda não li e fui ao café. Sobre a mesa o exemplar de uma das coletâneas de contos. Escolhi três para ler: “O Inferno Tão Temido”, “A Face da Desgraça” e “Bem-vindo, Bob”.

Para acompanhar a leitura: lapiseira, caneta, moleskine, uma xícara de machiato, adoçante, um copinho de água mineral e guardanapos de papel.

Ignorei a Santa Maria do cidadão que falava, em voz alta, com a companheira e ao celular ao mesmo tempo, à mesa em frente e o outro, na mesa de trás, que fungava e tossia.

Mergulhei nas águas profundas da Santa Maria de Onetti, anotando na caderneta, sublinhando no livro algumas coisas como “E a juventude intacta, a experiência coberta de cicatrizes”.

De vez em quando, parava e pensava, sem tirar os olhos da página: Onetti quando menino lia dentro de um armário, com a luz de uma lanterna e a companhia de um gato. Essa seria a causa de sua vista ruim. Lera muito naquele refúgio.



De repente um flash de máquina fotográfica me levaria para o centro do café. Sorri meio sem entender o que acontecia e novamente abaixei a cabeça para a leitura.

Na tarde havia sol e um friozinho agradável, no café pouca luz e um friozinho desagradável.


Algum tempo depois, uma chamada no celular anunciava tão próximo estava o fim da celebração.

Mesmo encerrando aquela leitura, continuarei a celebrar: no futuro, a comanda do café será marcador de páginas no “O Estaleiro”.


PS: daqui a dois anos, o centenário de Ernesto Sábato. Onetti faleceu em 30 de maio de 1994, em Madri. Sábato reside em Buenos Aires (Rojas, 24 de junho de 1911): muita vitalidade a ele.

29.5.09

HOMENAGEM

Aproveitando um texto postado há algum tempo, faço uma homenagem à livraria do Globo, que fechou no mês de maio, em Santa Maria (da Boca do Monte, Rio Grande do Sul), após ser o estabelecimento comercial mais antigo da cidade (102 anos?). A leitura está disponível na página anterior.

15.5.09

ASSIM COMO AQUELE GATO


Há quem não acredite e ria do que digo. Mas, há um traquina misterioso pelas estantes que acolhem os meus livros. Quando lembro desse maroto, lembro, também, de um gato chamado Mimoso, da minha adolescência. Mimoso sumia por dois ou três dias. À noite até ouvia seus miados. Depois retornava sujo e lanhado. Recebia comida, e passava o resto do tempo sobre o rádio de válvula ligado. Aproveitando o calorzinho.


Meus livros não reaparecem sujos e lanhados. Mas somem, e de repente lá estão na vertical, disfarçadamente entre outros. Muitas vezes, na horizontal, como se descansassem. Voltam empoeirados. Talvez do pó que entra pela janela, tão próxima à rua.


Não raro sou motivado a lembrar de um livro, corro a estantes. Onde está ele? Procuro. Me agacho, subo no banco, na escada. Procuro entre os que estão na mesa de cabeceira. Às vezes até na revisteira do banheiro. Nada.


Para citar dois exemplos. Tão logo anunciaram, discretamente para o meu gosto, que Nélida Piñon havia ganho o Prêmio Príncipe Astúrias de Literatura de 2005, fui ao reencontro dos exemplares de sua obra que tenho há algum tempo. Todos estavam lá, menos Pão de Cada Dia. Um livro de crônicas.


Será que o livro continua na farra, mais longa do que as de Mimoso? Viro, reviro. Nada. Encontro outros que estavam extraviados. O pão nosso, nada.


Neste dia bem característico de agosto (só faltam o vento norte e o cachorro louco), assisto pela televisão à primeira parte da , tão prometida, rara entrevista de Manoel de Barros. Esse poeta que prova que tudo serve à poesia.



Ali sentado, enquanto também observo os dois bem-te-vis tomarem banho na caixa d`água aberta da casa vizinha, assisto, com todos os ouvidos, ao poeta pantaneiro. Mal os pássaros abandonam a água, e os créditos do programa de tv desaparecem, vou até à estante onde aninha-se a poesia. Procuro daqui, procuro de lá. Nada. Acendo a lâmpada, apesar de ainda ser meia tarde do domingo de um sol quase quente. Nada. Sigo adiante. Na próxima estante, nada. Vou de livro em livro. A mesma coisa. Então desisto das poesias. Parto para a outra estante. Entre os romances também não está. E assim passo o resto da tarde. Manoel, Manoel onde estás? Não te escondas. Mais cedo ou mais tarde te acharei. Gostaria de achá-lo, agora, neste calor da hora. Nada. Manoel de Barros fica, então, naquela imagem da tv, entre a mulher e os filhos, dizendo "zé fini".


O certo é desistir, por ora. Manoel de Barros aparecerá quando menos espero. Aí abrirei ao léu, em pé, o único livro que tenho dele. Lerei um verso, um poema. Quase todo o livro. Possivelmente será à noite. Certamente pelo início da madrugada, enquanto me dirijo ao sono, passando pelas estantes. O traquina fará Manoel me assoviar. Psiu, estou aqui. Assim como outros fizeram, quando voltaram de dias e noites de farras. Assim como aquele gato. Mimoso, no entanto, apesar de desaparecido, se anunciava em miados fortes por cima dos telhados, que ainda haviam na noite.
DE PERTO NINGUÉM É NORMAL

Na gravação do programa Palavra Falada (rádio Universidade, UFSM), sem combinar, dos cinco participantes, quatro levaram livros tendo a loucura como tema, com personagens trágicos. Uma coletânea dos melhores contos de loucura (de Artaud, de Lima Barreto, de Machado de Assis, de Allan Poe, Dickens, Pirandello, Rawet, Bukowski, Gogol, Qorpo-Santo, Tchekhov, Maupassant e tantos outros). Sylvia Plath. Demônio do Meio Dia. Ernest Hemingway.Resta confirmar, logo mais.